sexta-feira, 16 de março de 2007

Sorte grande

Hoje foi um dia de trabalho árduo... Resolvi questões concernentes ao jogo Freecell no computador, tentando bater meu record (de quantas vezes seguidas conseguia vencê-lo), me sentindo tão esperto a cada nova vitória. Pensava: “quantas pessoas no mundo conseguem ganhar um jogo desses?! Sim! Não é um jogo tão simples. Você precisa no mínimo de concentração, mínimo de destreza e ousadia. Mas é claro! Ousadia para arriscar podendo colocar sua vitória à prova assim que aparece a mensagem terrível de que o jogo acabou. Realmente muito terrível, realmente muito esperto...” Meus dias quase se resumem a isso. Vez ou outra volto ao “Paciência”, mas com o perdão do trocadilho tão exaustivamente feito, me falta paciência para jogá-lo. Meu negócio é mesmo com o Freecell e a comida e a novela. Pois é. Dei agora pra assistir novela. Veja bem, eu, beirando os trinta anos e vendo novela. Uma barriga que começa a salientar, o botão da calça que eu anseio por abrir depois que como o delicioso jantar preparado por minha mãe. É. Moro com meus pais. Dois velhinhos classe média, com síndrome que eu chamo de “Allan Kardec”, que se manifesta a cada vez que eles tentam decifrar o que acontecerá com a personagem da novela, o ladrão do filme, a coitada que chora as mágoas do marido agressor no programa de baixaria. É uma vontade de traduzir toda a mediunidade deles falando com a televisão. Vez ou outra sai uma discussão, quando eles discordam. Essa é hora em que eu volto pro Freecell. Irônico. Fui procurar o que significava “cell”, pra fazer a unção e descobrir a tradução de meu vício. “Cell” é 1) cela ou 2) célula. Gostei do primeiro. Sabendo que “free” é livre, cela-livre é um paradoxo bacana. Acho que se enquadra bem ao meu quadro porque eu vejo tudo enquadrado. Acho que se enquadra bem ao “nosso” quadro. No fim das contas não estamos mesmo em celas-livres? Cada um vivendo em sua. Com o direito de ir e vir, mas dando duro pra pagar as prestações do celular de última geração. Com a livre expressão, mas engolindo seco pra não ser despedido. Com o livre arbítrio, mas orientando as vontades pra vencer na vida, ou “mostrar” pros outros que venceu na vida. As células acho que são as únicas que continuam verdadeiramente livres. E do jeito que as coisas vão, não por muito tempo. (Pausa para breve reflexão...Volto ao Freecell).

8 comentários:

Unknown disse...

Nossa , depois de ler esse texto, minhas partidinhas de Free-Cell, nunca mais serão as mesmas..rs

Beijo grande.

Unknown disse...

é....
sempre uma surpresa boa tem essa menina...
não sabia quwe escrevia tão bem, não que eu seja um crítico ou cois parecida, mas eu gostei e é isso que importa!

Ulysses Maciel disse...

muito booooommm! oh! Karamazovska!!!!

Orlando Calheiros disse...

vapt vupt... Me lembra um pouco voltaire de souza...

Alex Guedes disse...

[claps claps claps]
Muito bom... Só vc mesmo pra ver tanta profundidade no freecell... hehehe...
Bjão...

Cheiro de Café disse...

Será q um dia as pessoas juntarão suas celas pra fazerem uma maior em que partilham algo? Depois do q eu li, vou colocar uma tranca reforçada na minha.

Anônimo disse...

Muito hilária sua crônica sobre o Nerd Filosofoda existencialista...Eu ficava horas jogando campo minado, mas isso foi antes de descobrir novos "jogos"...

Anônimo disse...

A logica do teu jogo é compreensivel na medida em que ele deixa de ser um simples jogo e se torna um meio de sobrevivencia..
Atente para o fato de que seus velhos pais não conhecem o Free Cell, se conhecessem seus metodos, mecanismos, escapismos,etc..
vc teria que entrar na fila pra jogar..rs