Dedicado a Gilvan Irineu, amante da madrugada e do sarcasmo que muito me estimula(m).
Eu desprezo os anti-sociais. Aqueles que têm toda a ousadia de mandar ir à merda o simpático taxista que diz educada e alegremente, “bom dia!”. Que respondem com a indiferença à senhora que na fila do banco comenta “que tempo maluco, né?! Parece que vai chover...”. Que têm toda a coragem bukowiskana de insultar, desprezar, xingar, ignorar. Porque na maioria das vezes são pessoas sem motivos para amargura. Pessoas que acordam em sua cama de casal confortável, localizada no quarto confortável do apê confortável no Leblon, tomam banho no chuveiro-ducha trio com tubo de R$435,00, tomam aquele café da manhã reforçado preparado pela Margarida - a empregada-, muitas vezes alvo dos insultos, apanham o táxi pro trabalho e destratam o taxista, xingam a estagiária e por aí vai. Tudo na vida exige justificativa. Amargura também. Rir entre os dentes, fazer aquelas piadinhas lotadas de um sarcasmo desgostoso, sair xingando as pessoas por aí, se recusar a dar lugar à velhinha no ônibus... Tudo isso deve vir acompanhado de justificativas e justificativas plausíveis. Somos conduzidos a buscar os porquês das coisas, desde sempre. É o que naturalmente dirige a humanidade à evolução, não?! E os porquês da amargura, devem acompanhar esse processo. Um processo que deve ser árduo. Diferente de “O Processo” de transformação de barata, seguido de “sangue de barata” (qual a culpa da barata de o combate ser injusto e sermos mais rápidos que ela?! Que sentido tem essa expressão quando na verdade, a barata não quer morrer e luta contra a sua vida até ser acertada por uma Havaianas?). Enfim... Voltando as baratas, digo, aos amargurados, no fundo esses últimos se assemelham profundamente aos insetos desprezíveis. Com a dureza da vida, lutam, correm, e quando alados, voam por aí para não serem pegos, se defendendo com a acidez por serem desgostosos. E têm os desgostosos sem explicação, como no caso do morador do apê de Manoel Carlos. Até serem acertados e fingirem-se de mortos com a chance de redenção. Creio eu, que as Havaianas selam um caminho sem volta na maioria dos casos. Já vão tarde! Insetos desprezíveis...