domingo, 15 de abril de 2007

Pouca beleza não é beleza

Dedicado aos poucos (e loucos?) que entendem o que falo... Ou não...

Eu vejo beleza no escancaramento, no desacreditamento, nas putarias e brigas de bar e veias abertas de Bukowski. Eu vejo beleza no detalhamento cuidadoso e minucioso da observação sensível e árdua da alma humana e na delineação de escritos que dão vontade de grudar no peito feito tatuagem de García Márquez. Eu vejo beleza na falta da pontuação tradicional, na escatologia, na genialidade de frases que fazem um absurdo sentido, no niilismo ciente de Saramago. Eu vejo beleza na dureza leve, nos Morangos Mofados, na criatividade precoce que se manteve até mais tarde de Caio Fernando Abreu. Eu vejo beleza na ousadia dura, na visão doentia da velhice, na relação minuciosa de revelar a bela natureza e a natural beleza de Virginia Woolf. Eu vejo beleza no que é revelado a cada soco de estômago de se reconhecer e reconhecer os outros (os outros, como os seus), da coragem, da aflição que faz acelerar a respiração na escrita de Dostoievski. Eu vejo beleza na obscuridade, no suspense vistoso, na sedução imperceptível da escrita de Rubem Fonseca. Eu vejo beleza na lucidez rara, na descoberta do sentido da vida numa ida ao supermercado, no envolvimento imediato, na brevidade que dura horas de Clarice Lispector. E vendo beleza nisso tudo, eu concluo que estou eternamente condenada... Que merda!

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu vejo beleza nos escritos da Pri, eu vejo beleza no sarcasmo da Pri, eu vejo beleza na Pri...

"Pouca Beleza Não é Beleza" me lembra o estilo poético de Carpinejar...Adorei a sua poesia!

Felipe Brito disse...

Lindo o texto!

Você e Bukowski..ai ai...rs

Dos citados, tenho um apreço pela Tia Clarice, mas aconfesso que ainda não a li muito.

Eu vejo beleza na ironia de Tchecov e de Dickens e na elegância provinciana de Verissimo Pai. Ah, vejo beleza também em pessoas que rasgam o peito e jogam sua identidade em textos sublimes para os amigos.

Vejo beleza em muitas outras coisas, viu? Mas, em análise sua, sou um condenado também!

Beijos!

phillip spotter disse...

eu vejo, também, ironia, eu vejo normalidade, simplicidade: por que a beleza; na tristeza, inconstância discretamente desarmônica de milan kundera.

Anônimo disse...

E´ lamentavelmente vc esta condenada... a ser tão bela quanto a "horrorosa" portuguesa Florbela Spanka.. cruel essa sina, essa praga divina, vinda dessa simbiotica condição de bruxa velha e poetisa menina

claudia kras disse...

Muito legal teu blogue, adoro escritoras "outsiders"...
Lê o meu tb:
http://bigornatetraedrica.blogspot.com
Parabéns e vida londa ao vida privada.

Ricardo Athayde disse...

Puxa, Pri, o que eu queria falar é mais ou menos o que o anônimo aqui debaixo falou...(só não sei quem é Carpinejar...). Muito lindo o que você escreveu, acabei lendo num dia que estava meio mal, e me alegrou muito ler seu texto...Adorei também o "mesa de bar".Típica coisa que acontece a cada 5 minutos em cada bar em todo o Rio de janeiro...
Muito bom, adorei seus escritos, bem íntimos, quem te conhece então se diverte!
É isso, parabéns!
Ricardo Athayde

Rodrigo Veiga disse...

Quem diria que eu iria encontrar uma vizinha que gostasse também da escatologia de Bukowski! Coisa rara em Reverendo Michael! Doce coincidência! Aliás, já não é a primeira! Copinho que o diga!