segunda-feira, 11 de junho de 2007

Mais uma dose

Estava às vésperas de completar 30 anos e recém saída de uma relação rápida com um homem casado. Fernando era casado com alguém que me fazia amante sem chances de aspirar ao cargo de oficial: o trabalho. Acordava-me com uns sussurros em francês, que seriam românticos se ditos ao pé do ouvido, ainda que eu não entendesse porra nenhuma daquilo: era ele estudando e tornando o francês impecável. Conheci Carlos Alberto um mês depois, numa boate. As amigas investiam em minha volta ao mundo dos solteiros, ainda que eu achasse aquilo tudo muito triste. Enfim cedi, depois de um joguinho de bancar a desentendida e o beijei. Fomos conversar e foi então que descobri: 21 anos. Fiquei estarrecida, mas vaidosa e não me importei com uma trepada amiga de uma noite, ainda que nove anos mais nova. Acontece que a foda amiga me surpreendeu. Ele procurava os bicos dos meus seios e os chupava de uma forma, ora maternal, ora violenta, e eu só conseguia admirá-lo. Explorava cada parte de meu corpo, numa curiosidade que só me fazia querer mais. Toda aquela falta de experiência me reacendendo a libido. Uma preocupação latente de me satisfazer. Depois eram os papos que me surpreendiam. E eu me fazendo de bem resolvida, mas me condenando interiormente. Com um conservadorismo medíocre de “o que vão pensar de mim?”. E eu me fazendo de bem resolvida, mas me apaixonando por todo encanto da falta de pêlos do mancebo e toda aquela inteligência... E o menino, com um apetite que me deixava as pernas bambas. Até o dia em que tomei a coragem de perguntá-lo, após ter bebido alguns vinhos, se ele só queria me comer e ele respondeu: “quero seu sexo e suas palavras”. Comecei a amá-lo a partir desse momento. E fui correspondida. Hoje vivo um romance embriagado, antes por uma paixão prematura, que pelos copos virados de bebida.

4 comentários:

phillip spotter disse...

vejo claramente, apesar da minha recente iniciação, um estilo narrativo-vocabular charles-bukowskiano. apesar de sua inclinação natural para tal, a escolha foi particularmente lufal - com o perdão do neologismo. ou seja, a estória de teor erótico-amoroso-sacana nem deixa sobrar nem faltar na ponta dos dedos e cai no estilo como luva.

acho que percebo o porquê da sua insatisfação pelo texto. senti que não empregou toda a costumeira rebuscância - e o perdão novamente, por favor. nem toda, nem ausente, porém.

gostei. culpa da narrativa. depois de conhecer carlos alberto um mês depois, numa boate, parece que as palavras começaram a fluir mais facilmente, envolvendo-me o espectador.

Felipe Brito disse...

Fico extremamente impressionado com textos sobre mulheres à beira dos 30.

São eles sinal dos tempos monótonos que vivenciamos?

O texto, ótimo, correu rápido e intenso.

O enredo me decepcionou um pouco. Fico a lamentar por essas pobres donzelas pós-modernas...

Beijão, melhor poetisa banguense! (Que elogio, hein? rs)

Vivi de Oliveira disse...

Essa porcaria aqui apagou meu comentário... Muito bem, Priscila. Nunca é tarde para sofrer. Aos vinte, trinta, quarenta... E nunca é tarde para viver, principalmente!

Leo Loureiro disse...

Muito legal a narrativa, tem peso e é envolventemente etílica.
abraço dona pri!